quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Ecologização do consumo: estamos no caminho certo?

De uns tempos para cá estamos acompanhando o crescimento significativo da consciência sobre a importância de relacionarmos nossos hábitos de consumo com os impactos que estes causam à natureza e à sociedade. Chamada a participar da batalha contra uma crise ambiental que coloca como uma possibilidade cada vez mais presente, a sociedade gradativamente tem modificado seus hábitos de consumo na tentativa de colaborar para garantir a qualidade ambiental e o futuro da humanidade. Nesse contexto, uma das soluções que tem sido posta aos consumidores é a mudança de seus hábitos de consumo: alternativas aos produtos convencionais, como carros flex, sacolas biodegradáveis, ecobags, papel reciclado, roupas confeccionadas com material orgânico ou reciclado, ao lado de novas práticas como reuso de papel, economia de água, energia elétrica, alimentos, entre outros, chega a nós como possibilidades de contribuição para, senão a melhoria, ao menos a neutralização do impacto da nossa presença no planeta.

Certamente, do ponto de vista da utilização de recursos naturais, essas atitudes tendem a gerar resultados. Menos recursos consumidos, mais recursos disponíveis.

No entanto, é preciso ponderar que esse é apenas um dos aspectos que influenciam as condições de sustentabilidade do sistema.  Existem outros.  A existência de bilhões de pessoas em condição de pobreza ou de miséria, que nem fazem parte ou participam parcialmente do universo do consumo do essencial para a sobrevivência, por exemplo, é um desses aspectos. Se agirmos em favor de reduzir, precisamos também agir para distribuir o que se economizou.

Um dos apelos das campanhas de redução do consumo de água, apenas para continuar citando exemplos, é o argumento de que o que se desperdiça poderia ser destinado a matar a sede de  pessoas que não tem. Mas como essa água economizada vai chegar a essas pessoas? Se pensarmos em água potável como uma possibilidade apenas àqueles que têm como pagar por ela, possivelmente o seu esforço irá “ralo abaixo” se não enfrentarmos a questão da efetividade concreta dos direitos humanos, que deve ser garantida a todos, independentemente das condições de se pagar por esse serviço. E o mesmo pode se dizer dos alimentos e da energia elétrica.

Outro exemplo é o uso do carro flex. Pode-se até ficar feliz por ajudar o planeta consumindo combustível de origem renovável, mas talvez não seja possível ficar tão felizes pensarmos no estresse causado pelos congestionamentos que crescem na proporção dos novos carros que são colocados nas ruas, e que, embora cada unidade polua menos, se aumentamos o número de fontes poluidoras, o resultado não será tão benéfico quanto se gostaríamos que fosse. Contar com um sistema de transporte coletivo eficiente e de qualidade, nessa situação, parece ser uma possibilidade muito mais efetiva.

E a tal da separação dos resíduos? Se não houver coleta seletiva ou uma cooperativa de catadores e recicladores para recolhê-los, ou ainda, se não houver interesse econômico suficiente para a reciclagem ou qualquer outra atividade de reuso, o destino deles não será outro senão virar lixo. Os exemplos são inúmeros e não teria muita utilidade ficarmos dissecando cada um. Mais útil, me parece, é reconhecer que todos eles possuem uma origem comum, que se enraíza numa crise que não é ambiental, mas social: a necessidade premente de nos reconhecermos como parte de um todo, um organismo vivo e dinâmico que não sobrevive apenas pela manutenção das partes, mas também pelo funcionamento dessas partes em favor do todo.

Reconhecer que a ecologização do consumo vai além do mero consumo do ecológico e que nossas escolhas de consumo não são mais que uma pequena parte da magnífica tarefa de nos alçarmos a um novo modelo de civilidade, em que o todo coletivo possa, efetivamente, ser mais que a soma das partes, me parece, essa é a verdadeira consciência, esclarecida, que ilumina não o consumidor, mas o cidadão. É desse sujeito que precisamos para viver num mundo melhor.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Por que o Plano Nacional de Contingência para atendimento a derramamento de óleo é tão importante para o Brasil?

Derramamentos de óleo e substâncias perigosas podem causar grandes impactos ambientais nos ecossistemas atingidos, provocar grandes perdas econômicas para os habitantes locais e para populações que utilizam recursos naturais destes ambientes. Estes incidentes podem demandar utilização intensa de recursos materiais, humanos e financeiros. Um Plano Nacional de Contingência para Atendimento a Derramamentos de Óleo e Substâncias Perigosas é considerado o modo mais eficaz de planejamento da estrutura nacional de combate a este tipo de evento.

Do petróleo produzido no Brasil, mais de 90% vem de reservatórios localizados sob o mar. Isso significa que um volume aproximado de 1,3 milhões de barris equivalentes de petróleo, em média, são extraídos e transportados diariamente ao longo de toda extensão da costa brasileira.

O recente vazamento de petróleo da Chevron é um sinal de alerta importantíssimo num país onde já existem 136 plataformas de produção, 60 sondas de perfuração e 8.964 poços em funcionamento. Segundo o IBAMA, ocorrem em média de 20 a 30 pequenos vazamentos de óleo por ano. E o cenário tende a ser mais preocupante, pois o Brasil será, em dez anos, o maior produtor de petróleo do mundo entre as nações que não integram a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP).

O litoral brasileiro tem diversas atividades econômicas que poderiam ser diretamente afetadas por um eventual derramamento acidental de óleo no mar, como o turismo e a pesca. Além deste aspecto social, temos também o aspecto ambiental, pois o ecossistema marinho existente é muito diverso e de importância e sensibilidade variadas.


Para compreender a probabilidade de acontecimentos deste tipo, ao se observar o histórico do problema de derramamento de óleo no mar no mundo nota-se que o número de eventos e a magnitude dos mesmos estão diminuindo significativamente ao longo dos anos, como mostra a Figura abaixo. Isso se deve à melhoria das tecnologias prevencionistas (como navios petroleiros de casco duplo, técnicas de controle de poço e outras). Muitas dessas melhorias são frutos de novas exigências governamentais ou virtude das políticas ambientais das próprias empresas.


Number of spills
             Número de derramamentos com mais do que 700 toneladas


Em contrapartida, de fácil percepção, mas de difícil quantificação, a importância dada pelos governos e pela opinião pública aos impactos gerados por derramamentos de óleo cresceu também significativamente. O impacto ambiental de um derramamento de óleo não tem uma relação direta com o volume derramado e sim com as áreas sensíveis que ele atinge. Como podemos observar na na próxima figura, que mostra o volume de óleo derramado por ano, analisando especificamente o ano de 1989, percebemos que o desastre do navio petroleiro Exxon Valdez na Costa do Alaska teve menos do que a metade do volume derramado pelo navio petroleiro Khark V que adernou a 120 milhas náuticas da costa atlântica do Marrocos, sendo que o primeiro é tido como um símbolo dos desastres associados a derramamentos de óleo e o segundo é lembrado por poucos.


 Quantities of oil
Quantidade de óleo derramado 


O derramamento do petroleiro Exxon Valdez, apesar de ser o 36º maior em volume já registrado na história (Internation Tanker Owners Pollution Federation – Ago/2011), teve repercussão muito maior do que outros de volume superior, mas que não atingiram regiões costeiras ou áreas sensíveis. Esse derramamento atraiu fortemente o interesse da imprensa por ser até então o maior derramamento ocorrido em águas americanas e ter ocorrido em uma área de grande importância na atividade pesqueira, com grande diversidade ambiental incluindo diversas espécies ameaçadas de extinção, como a águia de cabeça pelada. Nesse caso, o custo envolvido na resposta foi o maior da história, sendo, no primeiro ano somente, de mais do que 2 bilhões de dólares, não incluídas as multas e compensações pagas em ações judiciais que se prolongam até os dias de hoje.

De maneira geral, segundo a INTERNATIONAL MARITIME ORGANIZATION, os custos de resposta somente, incluindo remediação, mas não multas, variam de aproximadamente US$ 650/tonelada a próximo de US$ 650.000/tonelada. Essa variância se deve, principalmente, pelas áreas atingidas pelo óleo derramado. 

Outro aspecto importante a ser considerado na análise dos derramamentos são as possíveis causas dos mesmos, como podemos observar na Tabela:


Operações
< 7 toneladas
7-700 toneladas
> 700 toneladas
Total
Carregamento e descarregamento
2821
332
30
3183
Abastecimento
548
26
0
574
Outras Operações
1178
56
1
1235
Acidentes
Colisões
173
296
97
566
Adernamento
235
222
118
575
Falhas de Casco
576
90
43
709
Fogo e Explosão
88
15
30
133
Outras/Desconhecidas
2181
148
24
2353
Total
7800
1185
343
9328
Derramamento por causa, 1974-2010 


Analisando a Tabela, observa-se que:

ü A maioria dos derramamentos de óleo no mar de pequena monta (menores que 7 toneladas), resultam de operações rotineiras como carregamento, descarregamento e abastecimento (que normalmente ocorrem em portos , terminais, ou plataformas relativamente próximos a costa)

ü A maioria dos derramamentos operacionais é de pequena monta (aproximadamente 91% de menos do que 7 toneladas)

ü Causas acidentais como colisões e adernamentos geralmente causam acidentes de maior monta com pelo menos 84% dos incidentes envolvendo quantidades maiores do que 700 toneladas de óleo sendo atribuídas a esses fatores.

De maneira resumida, de acordo com a análise das estatísticas apresentadas, a maior probabilidade de ocorrências de derramamento de óleo no mar se dá próximo à costa, assim como aquelas de maior severidade, principalmente aquelas que ocorrerem em áreas sensíveis.

Uma vez que os derramamentos, por análise histórica, são inevitáveis, e os custos de reparação elevados, responder a eles de maneira eficaz é muito importante. Se respondidos eficientemente, o impacto ambiental e, por consequência, os custos associados a remediações serão reduzidos, além de minimizar os impactos negativos associados ao nome da empresa cujo óleo foi derramado, por demonstrar presteza e diligência.  Por isso a necessidade de um Plano Nacional de Contingência a Derramamento de Petróleo, estruturado nos níveis estratégico, tático e operacional, onde as decisões tomadas em um nível superior serão restrições para os problemas formulados no nível inferior.

Para o problema de derramamento de óleo no mar sob o enfoque estratégico são consideradas as decisões relacionadas ao investimento e ao planejamento de longo prazo, ou seja, relacionadas a futuros derramamentos possíveis de ocorrer, sendo então determinados os tipos e as quantidades de equipamentos necessários e os locais mais adequados para armazená-los de maneira que se tenha uma capacidade adequada para uma ampla faixa de potenciais derramamentos de óleo que possam vir a ocorrer ao longo de um horizonte de tempo especificado. Um dos requisitos que direcionará o posicionamento destes equipamentos é o atendimento do tempo máximo de resposta requerido para cada um dos cenários de derramamentos identificados.

Os níveis tático e operacional dizem respeito às decisões a serem tomadas após a ocorrência do acidente. No nível tático são tratadas as decisões relacionadas à resposta a um acidente específico de derramamento de óleo, definindo-se para este o número e tipo de equipamentos que serão alocados à cena no início do acidente e durante o seu andamento. O problema tático assume que o problema estratégico tenha sido resolvido, uma vez que decisões no nível tático utilizarão os equipamentos que foram disponibilizados no plano estratégico.

O nível operacional está relacionado com o uso dos equipamentos uma vez que estes tenham chegado à cena do acidente. Nele são examinadas com muito mais detalhe as ações que devem ser tomadas durante o acidente, qual a configuração geométrica adequada aos equipamentos ou qual a alocação espacial dos equipamentos de resposta/limpeza. Decisões operacionais determinam exatamente como utilizar os sistemas de resposta prescritos pelo nível tático.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Estamos preparados para os desafios do Pré-sal?

O vazamento de petróleo da Chevron é um sinal de alerta importantíssimo num país onde já existem 136 plataformas de produção, 60 sondas de perfuração e 8.964 poços em funcionamento. Segundo o Ibama, ocorrem em média de 20 a 30 pequenos vazamentos de óleo por ano. Trata-se de uma atividade de altíssimo risco, razão pela qual o professor de Engenharia Oceânica da COPPE, Segen Stefen, advertiu em uma entrevista recente que os “vazamentos vão acontecer, eles acontecem na indústria do petróleo, razão pela qual precisamos ter as ferramentas adequadas para lidar com eles”.

E o cenário tende a ser mais preocupante, pois o Brasil será, em dez anos, o maior produtor de petróleo do mundo entre as nações que não integram a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep). Dessa produção, cerca de 90% virá de plataformas offshore (no mar). 

Em resposta ao título desta postagem, pode-se afirmar: o Brasil não está preparado para abrigar a mais voluptuosa exploração de petróleo em águas profundas do mundo! Esta talvez seja a maior lição do vazamento de óleo nas proximidades de um poço aberto pela Chevron na Bacia de Campos, o qual revelou uma série de irregularidades, em diferentes níveis governamentais e privados, como erros de cálculo, desencontro de informações, falta de transparência, omissão e demora para agir.

O vazamento, que começou no dia 8 e só foi controlado ontem, após a cimentação da rachadura no poço, ainda deixa perguntas importantes sem respostas e algum espaço para especulações. Não é possível que os engenheiros e funcionários da Chevron ouvidos na plataforma da companhia pelo delegado da Polícia Federal responsável pelo caso, Dr. Fábio Scliar, digam que “não receberam treinamento para lidar com vazamentos” nem saibam apontar com exatidão para onde está sendo levado o óleo supostamente recolhido pela Chevron, conforme nota divulgada pela empresa.

Não é admissível que o vazamento tenha sido percebido primeiro pela Petrobras, que ainda emprestou equipamentos capazes de observar a 1.200 metros de profundidade o que estava acontecendo exatamente nas fissuras geológicas que começaram a “sangrar” óleo nas imediações do poço aberto pela TransOcean, a pedido da Chevron. A mesma TransOcean que está sendo processada nos Estados Unidos por envolvimento no maior desastre ambiental daquele país, o mega-vazamento de óleo da BP no Golfo do México, há pouco mais de um ano. O próprio presidente da Chevron, Charles Buck, admitiu que “subestimou-se a pressão do reservatório”.

A investigação deverá revelar os termos do licenciamento dado a Chevron para operar o campo, mas não será surpresa se os argumentos técnicos em favor da exploração forem ligeiramente parecidos com outros relatórios alusivos a áreas completamente diferentes por conta do velho truque do “copia e cola”, tão amplamente disseminado nas rotinas dos Estudos de Impacto Ambiental (EIA).

Numa curiosa coincidência, o vazamento ocorreu poucas semanas depois de o governo anunciar medidas que, na prática, agilizam (ou flexibilizam) o processo de licenciamento ambiental. No caso da exploração de petróleo e gás, as licenças passariam a ser feitas por blocos de área de exploração e não mais poço a poço.

Pergunta importante: por que o governo ainda não anunciou o Plano Nacional de Contingência, que já foi aprovado por lei há 11 anos? O Plano deve estabelecer responsabilidades e atribuições para cada diferente setor governamental ou privado quando houver vazamentos. É evidente que o assunto desagrada a quem, a partir do Plano, deixa de ter desculpas para não ter sido devidamente prudente ou suficientemente ágil em caso de acidentes.

Para piorar a situação, o valor máximo da multa por crime ambiental no Brasil é de apenas 50 milhões de reais. Segundo o delegado da PF, Fábio Scliar, bastam 53 minutos de produção para que uma petrolífera consiga arrecadar esses 50 milhões de reais. Em resumo: essa multa não intimida nenhuma empresa do setor.

Para que ninguém se arrependa depois, é preciso agir agora com a devida coragem, realinhando os procedimentos que envolvem licenciamento, monitoramento, fiscalização, multa e novas medidas de segurança. Não basta ser mega-produtor de petróleo. É preciso fazer isso com responsabilidade e segurança.


Vazamento de petróleo no campo de Frade, operado pela Chevron

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Bisfenol A: você ingere sem saber e adoece sem querer

Em setembro, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária proibiu a comercialização de mamadeiras com a presença de bisfenol A (BPA), decisão que valerá a partir de 1º de janeiro de 2012. Por trás da proibição está um movimento internacional de alerta aos danos que essa substância pode causar. Os prejuízos, registrados por diversos estudos científicos ao redor do mundo, vão desde alterações no sistema endócrino e reprodutor até alguns tipos de câncer. Países como Canadá, China e os da União Europeia, além de vários estados dos EUA, também já tomaram medidas para restringir o uso da substância.

O bisfenol A é um composto químico que pode ser encontrado em materiais que apresentam em sua composição o policarbonato e em revestimentos internos de latas que condicionam alimentos. De óculos de sol a acessórios de automóveis, produtos com BPA estão por toda parte. Mas são nos utensílios de cozinha, em especial os infantis, como mamadeiras e copos de criança, sobre os quais reside a preocupação dos médicos.

"O BPA é uma molécula muito instável e pode migrar dos produtos para os alimentos apenas com mudanças de temperatura ou danos à embalagem", explica Cristiane Kochi, médica endocrinologista-pediatra e membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia. Portanto, o leite da criança pode ser contaminado, por exemplo, quando uma mamadeira feita de plástico com BPA é levada ao microondas.

O principal perigo da exposição ao bisfenol A está no fato de ser um desregulador endócrino. "No organismo, o BPA se comporta de maneira semelhante ao estrógeno, um hormônio feminino. Ele interfere diretamente no funcionamento de algumas glândulas endócrinas e pode aumentar ou diminuir a ação de vários hormônios", explica Tânia Bachega, endocrinologista do Hospital das Clínicas e coordenadora da campanha "Diga não ao bisfenol A: a vida não tem plano B", feita pela regional de São Paulo da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia.

O BPA atinge mais gravemente fetos e crianças, já que estão em fase de desenvolvimento. Porém, os adultos também podem ser prejudicados, por estarem em contato com diversos produtos que contêm a substância, como enlatados (praticamente todas as latas de alumínio vendidas no Brasil tem BPA em seu revestimento interno) e alimentos que ficam armazenados em recipientes de plástico, e são frequentemente levados à geladeira e ao congelador. Mudanças de temperatura, mesmo pequenas, são o suficiente para liberar o bisfenol A .

Ainda faltam estudos em  humanos que apresentem evidências concretas, mas pesquisas com animais em laboratório sugerem que o consumo do BPA esteja relacionado com pior qualidade do esperma (queda de produção, espermas imóveis ou morte de espermas) e infertilidade, atribuída à atividade estrogênica do BPA. Além disso, observou-se um potencial cancerígeno do BPA, em especial o câncer de próstata. Nas mulheres, a alteração genética causada pelo BPA pode desencadear infertilidade e câncer de mama. E, tanto em homens como mulheres, estudos associaram o BPA à obesidade. "Não há uma explicação exata para isso, mas acredita-se que o bisfenol A altere a máquina celular, causando um acúmulo das células adiposas", afirma Elaine Frade Costa, médica supervisora do serviço de endocrinologia do Hospital de Clínicas de São Paulo. Também foi relacionada a exposição ao BPA com alteração da tireoide e interferência no sistema imunológico. 

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Os royalties do petróleo: uma repartição igualitária ou uma contrapartida aos estados produtores?

Royalty vem do inglês royal (real). Esse conceito tem início na Idade Média, onde uma taxa era paga ao rei pela extração de recursos naturais.

Atualmente, os royalties do petróleo têm, principalmente, um sentido reparador para seus impactos ambientais. Ou seja, as regiões produtoras são recompensadas pelos danos ambientais decorrentes. Além disso, ele é utilizado para compensar uma distorção tributária: ao contrário do que acontece com todos os outros produtos, o ICMS do Petróleo é arrecadado no estado comprador, não no que produz. Por fim, esse recurso financeiro existe para ser aplicado no desenvolvimento de atividades econômicas que substituam a exploração do petróleo quando este se extinguir, exemplos bem sucedidos acontecem na Noruega e Emirados Árabes

No Brasil, a lei dos royalties foi criada em 1953, estabelecendo 4% sobre o valor total da produção (3% para os estados produtores e 1 % para seus municípios). Desde então a legislação foi alterada 3 vezes. Em 1985, com o início da exploração offshore, estados e municípios próximos às plataformas passaram a receber 1,5% do valor da produção, a Marinha 1% e o Fundo Especial (dividido entre todos os estados), 1%. Em 1989, os royalties subiram para 10% e a divisão ficou como está hoje. 

O estado do Rio de Janeiro é dono de 80% da produção nacional de petróleo e recebe, por isso, 45% dos royalties. No entanto, uma nova proposta de distribuição dos royalties do petróleo, de autoria do senador Vital do Rego, prevê uma nova distribuição, já para 2012. Isso representaria uma perda de aproximadamente 50 bilhões de reais aos cofres do estado do Rio e a seus municípios produtores, até 2020.



Esse projeto foi aprovado no senado, em 19/10/2011. Passará por votação na Câmara, ainda sem data marcada. Caso seja aprovada, passará para sanção ou veto da Presidente Dilma.

É um absurdo que o pacto federalista, o conceito de Nação, dê lugar a interesses políticos. A justificativa é que essa nova distribuição dos royalties ajudaria na equidade econômica entre os estados brasileiros. Mentira! Se assim fosse, os estados mais pobres receberiam uma parcela maior. O Rio de Janeiro precisa abdicar de bilhões de reais em favor de Santa Catarina, Paraná, Rio Grande do Sul ou São Paulo, que possuem Índices de Desenvolvimento Humano superiores?!


Como dito acima, os royalties possuem um sentido reparador dos danos ao meio ambiente. O mapa abaixo foi desenvolvido por modelagem computacional e mostra o comportamento das correntes marítimas na região sudeste.


Observando os vetores, pode-se concluir que o petróleo derramado durante a exploração e/ou transporte na região da Bacia de Campos (80% da produção nacional), viria para o litoral do estado do Rio de Janeiro, constituído por praias de alta sensibilidade ecológica.

Além da questão ambiental dos royalties, tem-se a tributária. Como ICMS do Petróleo é arrecadado no estado comprador, com a nova distribuição dos royalties, os estados produtores não terão mais essa distorção corrigida. 


Por fim, o petróleo é um recurso finito. Todos no estado do Rio de Janeiro sabem que não poderão contar com os recursos advindos de sua exploração eternamente. Com isso, novas atividades econômicas estão - e deverão ser - desenvolvidas. E para isso gasta-se muito dinheiro na formação e capacitação de pessoas, desenvolvimento, pesquisa, inovação e incorporação de tecnologias e técnicas de produção. Para um estado que nunca produziu petróleo, não precisa se preocupar e se preparar para seu fim.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Novo Maracanã já nasce velho

O projeto do novo Maracanã confirma a exclusão de um item absolutamente importante para que qualquer projeto de engenharia do gênero possa ser chamado de "moderno e sustentável". Apesar do variado cardápio de estádios de futebol espalhados pelo mundo com aproveitamento energético do sol, a caríssima obra de reconstrução do Maracanã - quase 1 bilhão de reais - ignorou essa possibilidade.

Estranho que isso tenha acontecido num país onde o sol brilha, em média, 280 dias por ano. Ainda mais na cidade que sediou a Rio-92, que vai sediar a Rio+20 e que está situada na mesma faixa de exposição solar que Sidney, na Austrália, que se notabilizou por realizar os primeiros Jogos Verdes da História, inteiramente abastecidos de energia solar.

Que estupidez a nossa desperdiçar a imensa área das marquises do novo Maracanã - quase 29 mil metros quadrados - que poderiam abrigar um vistoso conjunto de placas fotovoltaicas capazes de gerar energia elétrica para até 3.000 domicílios. O custo varia de dez a vinte milhões de reais, dependendo da tecnologia empregada. Alguém poderá dizer: "É caro demais! Não vale a pena". Mas será que a forma usual de comprar energia está valendo a pena?

Vivemos num país onde, segundo o IBGE, a tarifa de energia elétrica subiu mais do que o dobro da inflação oficial nos últimos 15 anos. A opção pelo solar - embora mais cara - oferece como vantagem a amortização do investimento em alguns poucos anos.

Alguém poderá dizer que a nova marquise - mais leve - poderia não suportar as tradicionais placas fotovoltaicas. Pois que se pensasse numa estrutura compatível. O que está em jogo é a possibilidade de tornar o estádio útil mesmo em dias que não aconteçam partidas de futebol. O Maracanã poderia ser uma usina de energia - ainda que com potência modesta - que além do benefício direto de gerar eletricidade, funcionaria também como elemento indutor de mais pesquisas e investimentos em energia solar no Brasil.

E quem disse que o custo de instalação de um projeto como esse só seria possível com recursos públicos? Se houvesse vontade política para promover inovação tecnológica no setor energético usando o novo Maracanã como garoto-propaganda, seria perfeitamente possível sondar o interesse de grandes empresas com know-how em energia solar que aceitassem instalar os equipamentos fotovoltaicos a custo zero, sem ônus para o governo. E o que essa empresa ganharia em troca? O direito de explorar a imagem do Maracanã como "estádio solar" graças à tecnologia oferecida pela empresa.

Alguém duvida que a imagem aérea do estádio tanto na Copa de 2014 quanto nas Olimpíadas de 2016 alcançará bilhões de telespectadores pelo mundo? É mídia espontânea, superexposição positiva de imagem, e tudo aquilo que um bom negociador não levaria mais do que alguns minutos para convencer o investidor a botar a mão no bolso e bancar a ideia.

Com recursos públicos ou privados, o certo era fazer. Não basta instalar alguns coletores solares para aquecer a água do banho usadas pelos atletas nos vestiários. É pouco. Se os responsáveis pelo projeto do Maracanã marcaram um gol contra desprezando o sol, os estádios de Pituaçu, em Salvador, e Mineirão, em Belo Horizonte, terão a energia solar como aliada para a produção de energia elétrica. Infelizmente, os cariocas continuarão usando o sol apenas para se bronzear. Símbolo da sustentabilidade por suas belezas naturais e por sediar grande conferências ambientais da ONU, o Rio de Janeiro continua com um Maracanã aquém do que merece.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Acidentes envolvendo produtos químicos perigosos: O que fazer?

Considera-se substâncias químicas perigosas aquelas que, isoladas ou em mistura, possam acarretar efeitos prejudicias aos organismos biológicos devido suas propriedades tóxicas, corrosivas, oxidantes e radioativas. Tais produtos podem estar sob forma sólida, líquida ou gasosa.

1 - Os acidentes envolvendo produtos químicos perigosos devem ser atendidos por pessoal técnico qualificado  e com uso de equipamentos apropriados para este fim
   
2 - As primeiras horas de atuação são fundamentais para evitar sua extensão e severidade. Por consequência, a agilidade na comunicação de sua ocorrência aos órgãos competentes é essencial. Informe ao Corpo de Bombeiros ou a Autoridade Policial sobre a ocorrência de um acidente com produtos químicos

3 - Em caso de acidente com produtos químicos, evite aproximar do local

4 - Mantenha uma distância segura para evitar a inalação de gases ou vapores

5 - Determinadas substâncias são nocivas à saúde, mesmo em pequenas concentrações. Outras são imperceptíveis ao olfato humano

6 - Jamais toque ou ande sobre um produto químico derramado

7 - Certos produtos químicos podem reagir violentamente com a água


Segundo a Organização das Nações Unidas- ONU, os Produtos Químicos Perigosos são classificados em nove Classes:

Classe 1 - Substâncias explosivas
Classe 2 - Gases tóxicos, inflamáveis, oxidantes, não inflamáveis, altamente refrigerados e comprimidos
Classe 3 - Líquidos inflamáveis
Classe 4 - Sólidos inflamáveis, substâncias sujeitas à combustão espontânea e perigosas quando molhadas
Classe 5 - Substâncias oxidantes e peróxido orgânicos
Classe 6 - Substâncias tóxicas e infectantes
Classe 7 - Substâncias radiativas
Classe 8 - Substâncias corrosivas
Classe 9 - Substâncias perigosas diversas

Perfil Nacional de Acidentes envolvendo Produtos Químicos Perigosos