O
gás de xisto é encontrado em diversos tipos de rochas. Como está preso no
interior de pequenas frestas, ele não pode ser extraído simplesmente fazendo um
poço vertical, como os utilizados para extrair petróleo. Mas, nos últimos anos,
foi aperfeiçoada uma tecnologia capaz de extrair este combustível de maneira
fácil e barata.
Primeiro, se faz um furo vertical até a
profundidade do reservatório. Depois, o equipamento de perfuração é reorientado
de modo que o furo continua na direção horizontal por longas distâncias (até 3
km), aumentando a área de contato do furo com a rocha porosa que contém o gás.
O passo seguinte consiste em injetar água com produtos químicos no furo e
submeter este líquido a grandes variações de pressão. A água, com os produtos
químicos, provoca rachaduras na rocha, que permitem o vazamento do gás para
dentro do furo. As rachaduras também podem ser provocadas utilizando explosivos
detonados na ponta do furo. Este processo é chamado de "fracking",
pois provoca rachaduras em grandes extensões da rocha que contém o gás. São por
essas rachaduras que o gás escapa, é coletado, e chega à superfície.
Desde o início do boom da
exploração do gás de xisto (shale gas) nos EUA, os ambientalistas se preocupavam
com o risco de contaminação dos reservatórios de água. Agora, os primeiros
estudos científicos demonstraram que a contaminação de fato ocorre, mas ainda
não se sabe a extensão do problema.
Cientistas da Universidade Duke,
da Carolina do Norte, analisaram amostras de água de 141 poços privados
que abastecem as casas situadas na bacia de gás xisto de Marcellus, no nordeste
da Pensilvânia e no sul do estado de Nova York. As concentrações de metano na
água potável das residências situadas a menos de um quilômetro dos locais de
perfuração eram, em média, seis vezes maiores às da água das casas que estavam
mais distantes, enquanto as concentrações de etano eram 23 vezes superiores.
A quantidade de metano superava
amplamente, na maioria destes poços, os 10 miligramas por litro de água, o
máximo nível aceito pelas autoridades sanitárias dos Estados Unidos. Também foi
detectado propano em dez amostras d'água dos poços das casas situadas a menos
de um quilômetro dos locais de extração.
Segundo o Professor Robert
Jackson, responsável pelo estudo, os resultados sobre metano, etano e propano,
assim como novos indícios de rastros de isótopos de hidrocarboneto e hélio,
levam a crer que a extração de gás de xisto afetou as fontes de água potável
nos lares mais próximos. Os dados sobre a contaminação de etano e propano são
novos e difíceis de refutar: "Não há nenhuma fonte biológica de etano e
propano na região e a bacia de gás de xisto Marcellus é rica nestes dois
gases", reforçou o pesquisador.
Estudos anteriores feitos pelos
pesquisadores da mesma universidade tinham encontrado indícios de contaminação
de metano em poços d'água situados perto das áreas de perfuração no nordeste da
Pensilvânia.
No entanto, um terceiro estudo,
feito por cientistas do Instituto Nacional de Geofísica dos Estados Unidos, não
tinha encontrado evidências de contaminação na água potável por causa da
extração de gás de xisto no Arkansas.
Ao longo dos
próximos anos será possível saber se a contaminação ficará restrita aos poços
próximos dos furos ou se espalhará por todo o aquífero, contaminando as três
grandes reservas de água da região. Falta também investigar se esses problemas
podem ser controlados, melhorando a tecnologia de extração de gás. De qualquer
modo, os primeiros estudos são no mínimo preocupantes.
É impressionante
a pequena quantidade de estudos que tentam mapear os riscos ambientais desse
tipo de exploração. A sensação é que ainda não é possível ter certeza se a
exploração de gás de xisto vai se tornar uma atividade segura ou um grande
desastre ambiental. Parece que a humanidade decidiu pular na piscina da riqueza
e, só agora, depois que partiu do trampolim, resolveu olhar se a piscina tem
água.
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