domingo, 7 de julho de 2013

Os Impactos Socioambientais da Exploração do Gás de Xisto

O gás de xisto é encontrado em diversos tipos de rochas. Como está preso no interior de pequenas frestas, ele não pode ser extraído simplesmente fazendo um poço vertical, como os utilizados para extrair petróleo. Mas, nos últimos anos, foi aperfeiçoada uma tecnologia capaz de extrair este combustível de maneira fácil e barata. 

Primeiro, se faz um furo vertical até a profundidade do reservatório. Depois, o equipamento de perfuração é reorientado de modo que o furo continua na direção horizontal por longas distâncias (até 3 km), aumentando a área de contato do furo com a rocha porosa que contém o gás. O passo seguinte consiste em injetar água com produtos químicos no furo e submeter este líquido a grandes variações de pressão. A água, com os produtos químicos, provoca rachaduras na rocha, que permitem o vazamento do gás para dentro do furo. As rachaduras também podem ser provocadas utilizando explosivos detonados na ponta do furo. Este processo é chamado de "fracking", pois provoca rachaduras em grandes extensões da rocha que contém o gás. São por essas rachaduras que o gás escapa, é coletado, e chega à superfície. 

O problema é que as rochas que contêm o gás estão por baixo das camadas de rocha onde se acumula a água de consumo, os chamados aquíferos. O risco é que, da mesma maneira que essas rachaduras permitem a migração do gás combustível para o interior do furo, elas oportunizam o vazamento do gás para dentro dos reservatórios de água, contaminando a água potável presente no subsolo.



Desde o início do boom da exploração do gás de xisto (shale gas) nos EUA, os ambientalistas se preocupavam com o risco de contaminação dos reservatórios de água. Agora, os primeiros estudos científicos demonstraram que a contaminação de fato ocorre, mas ainda não se sabe a extensão do problema.

Cientistas da Universidade Duke, da Carolina do Norte, analisaram amostras de água de 141 poços privados que abastecem as casas situadas na bacia de gás xisto de Marcellus, no nordeste da Pensilvânia e no sul do estado de Nova York. As concentrações de metano na água potável das residências situadas a menos de um quilômetro dos locais de perfuração eram, em média, seis vezes maiores às da água das casas que estavam mais distantes, enquanto as concentrações de etano eram 23 vezes superiores.

A quantidade de metano superava amplamente, na maioria destes poços, os 10 miligramas por litro de água, o máximo nível aceito pelas autoridades sanitárias dos Estados Unidos. Também foi detectado propano em dez amostras d'água dos poços das casas situadas a menos de um quilômetro dos locais de extração.

Segundo o Professor Robert Jackson, responsável pelo estudo, os resultados sobre metano, etano e propano, assim como novos indícios de rastros de isótopos de hidrocarboneto e hélio, levam a crer que a extração de gás de xisto afetou as fontes de água potável nos lares mais próximos. Os dados sobre a contaminação de etano e propano são novos e difíceis de refutar: "Não há nenhuma fonte biológica de etano e propano na região e a bacia de gás de xisto Marcellus é rica nestes dois gases", reforçou o pesquisador.

Estudos anteriores feitos pelos pesquisadores da mesma universidade tinham encontrado indícios de contaminação de metano em poços d'água situados perto das áreas de perfuração no nordeste da Pensilvânia.

No entanto, um terceiro estudo, feito por cientistas do Instituto Nacional de Geofísica dos Estados Unidos, não tinha encontrado evidências de contaminação na água potável por causa da extração de gás de xisto no Arkansas.

Ao longo dos próximos anos será possível saber se a contaminação ficará restrita aos poços próximos dos furos ou se espalhará por todo o aquífero, contaminando as três grandes reservas de água da região. Falta também investigar se esses problemas podem ser controlados, melhorando a tecnologia de extração de gás. De qualquer modo, os primeiros estudos são no mínimo preocupantes.


É impressionante a pequena quantidade de estudos que tentam mapear os riscos ambientais desse tipo de exploração. A sensação é que ainda não é possível ter certeza se a exploração de gás de xisto vai se tornar uma atividade segura ou um grande desastre ambiental. Parece que a humanidade decidiu pular na piscina da riqueza e, só agora, depois que partiu do trampolim, resolveu olhar se a piscina tem água.

quinta-feira, 13 de junho de 2013

Como saber se a coleta seletiva da Comlurb passa em sua rua?

Basta entrar no site da Comlurb, http://www.rio.rj.gov.br/web/comlurb, e seguir o passo a passo abaixo.

1- Ao entrar no site, clicar em serviços (marcado em vermelho)




2- Nos serviços por palavra digite: Coleta Seletiva e clique em buscar.
3- Em seguida logo abaixo aparecerá uma lista de informações, clicar em coleta seletiva. É o sexto item (circulado em vermelho)

4- Escolha entre zona sul, norte e oeste e procure sua rua. Lá você terá todas as informações que deseja como: dias e horários que o caminhão passa

terça-feira, 20 de novembro de 2012

A exploração de petróleo: o contraste Brasil x EUA

Já se passou meia década desde o anúncio de que o Brasil dispõe de grandes reservas de petróleo e gás, na camada do pré-sal. A euforia da descoberta era, então, equivalente à do mercado mundial.

O barril de petróleo passaria de US$ 140 pouco antes do colapso financeiro de 2008. O preço alto mais que justificaria a cara exploração das reservas submarinas.

O mesmo sinal do mercado incentivou empresas e governo dos Estados Unidos a promover expressiva mudança no setor de energia.

Em particular depois de 2008, os EUA tomaram providências para reduzir o excessivo consumo de petróleo e incentivar a produção de biocombustíveis. Em 2011, a demanda americana de petróleo era 8,6% menor que em 2006.

Os EUA também passaram a explorar reservas não convencionais, como a de petróleo e gás de xisto, uma rocha que demanda exploração especial e cara. Inovações tecnológicas, livre-iniciativa e regulação decente do mercado devem levar os EUA de volta à liderança mundial na produção de petróleo.

Na semana passada, a Agência Internacional de Energia (AIE) afirmou que a produção americana deve superar a saudita em 2020, quando a importação do combustível terá sido reduzida em mais da metade. O país deve tornar-se autossuficiente em cerca de 20 anos.

A AIE não exagera, pois, ao dizer que os EUA redesenham o mapa mundial do petróleo. No Brasil, a euforia dissolveu-se em inércia.

Desde 2008 não há leilões de novas áreas de exploração de petróleo. A área sob produção diminui. A lei de divisão dos royalties recém-aprovada deve levar a mais conflito e paralisia. Ou a presidente veta esse projeto, ou Rio de Janeiro e Espírito Santo irão à Justiça.

O programa de investimentos da Petrobras, vergado sob o peso da exigência de conteúdo nacional, atrasa e se encarece. A empresa tornou-se instrumento de políticas públicas que a tornam ineficiente. Constrói refinarias de economicidade duvidosa no Nordeste; arca com os custos do tabelamento, na prática, da gasolina.

 A produção de petróleo estagnou; a empresa teve em 2012 seu primeiro prejuízo trimestral em 13 anos. O tabelamento da gasolina desestimula o consumo e a produção do etanol, com o que a estagnação se abateu também sobre o setor de biocombustíveis.

O contraste é evidente. Aqui, a euforia transforma-se no torpor derivado de estatismo, miopia política, nacionalismo e pura inépcia, uma velha e conhecida doença brasileira. Nos EUA, um ambiente mais livre e tecnologicamente desenvolvido permite a invenção de soluções para superar crises.

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Comlurb gasta R$ 400 milhões recolhendo lixo jogado pelos cariocas nas ruas

Todos os anos, a mania do carioca de jogar lixo na rua consome um dinheirão que daria para construir dez hospitais de grande porte. O valor do desperdício equivale à construção de 80 escolas, 100 Unidades de Pronto-Atendimento (UPA), 114 Clínicas da Família ou 133 Espaços de Desenvolvimento Infantil (EDI), com creche e pré-escola. De R$ 1 bilhão do orçamento da Comlurb, R$ 400 milhões (40%) são para recolher o lixo jogado no espaço público.

“O carioca rasga dinheiro quando joga sujeira no chão. Grande parte da verba poderia ser aplicada na saúde, educação ou conservação da cidade”, comenta o secretário municipal de Conservação, Carlos Roberto Osório. “É como se uma pessoa jogasse fora uma moeda de R$ 1 quando larga um copo no chão”, compara a presidente da Comlurb, Angela Fonti.



Segundo o secretário, 1,2 milhão de toneladas recolhidas por ano nas ruas da cidade representa mais do que o dobro dos resíduos largados em vias de países desenvolvidos.


Além de economia, a mudança de hábito reduziria os transtornos da operação de limpeza da cidade. “Poderíamos fazer um trabalho mais rápido, com menos caminhões. Além de a cidade ficar limpa e agradável, os problemas de saúde pública iriam diminuir”, ressalta Angela.



Das 34 regiões administrativas da cidade, Campo Grande foi a que produziu mais lixo no mês de junho: 9.182 toneladas. Na outra ponta da tabela está a Ilha de Paquetá, com 35 toneladas.


A população flutuante influencia nos resultados. O Centro da cidade aparece na 19ª colocação em quantidade de lixo gerado, com 2.143 toneladas por mês. Mas, se for considerada a média de sujeira produzida por habitante, ficaria em primeiro lugar, com 2,6 kg por pessoa. O alto índice se explica pelo grande número de visitantes que frequentam o bairro. Nesta lógica, Guaratiba seria a região mais limpa, com só 0,17 kg por morador.


“Os bairros mais residenciais têm menos problemas de lixo público. Isso revela um comportamento. As pessoas não jogam lixo na porta de sua casa”, explica o secretário Carlos Osório.

Garis retiram mais de meia tonelada de resíduos por dia na Av. Rio Branco


Varrida quatro vezes por dia, a Avenida Rio Branco, no Centro, exige operação especial. Em seu 1,7 km de extensão, 16 garis retiram todo dia 580 kg de lixo, apesar de a via ter 100 lixeiras.



Outras áreas de grande circulação recebem atenção especial, como o Largo de São Francisco, entorno da Central, Largo da Carioca, Cinelândia, Lapa, Calçadão de Campo Grande, Calçadão de Madureira e Avenida Nossa Senhora de Copacabana. Apenas na Praia de Copacabana, cerca de 90 toneladas de lixo são recolhidas por fim de semana. Na areia, são retirados, em maior quantidade, garrafas PET, coco, canudo, papel e embalagens.

A sujeira jogada nas ruas ‘volta’ para o cidadão, ao causar problemas de saúde e atrair roedores. “Na chuva, o lixo é arrastado para galerias pluviais. Isso leva ao entupimento, que agrava os alagamentos. O lixo é o grande inimigo da drenagem urbana”, alerta o secretário. “Não sujar a rua é uma questão de educação, de gostar da cidade”, acrescenta Angela.

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Ecologização do consumo: estamos no caminho certo?

De uns tempos para cá estamos acompanhando o crescimento significativo da consciência sobre a importância de relacionarmos nossos hábitos de consumo com os impactos que estes causam à natureza e à sociedade. Chamada a participar da batalha contra uma crise ambiental que coloca como uma possibilidade cada vez mais presente, a sociedade gradativamente tem modificado seus hábitos de consumo na tentativa de colaborar para garantir a qualidade ambiental e o futuro da humanidade. Nesse contexto, uma das soluções que tem sido posta aos consumidores é a mudança de seus hábitos de consumo: alternativas aos produtos convencionais, como carros flex, sacolas biodegradáveis, ecobags, papel reciclado, roupas confeccionadas com material orgânico ou reciclado, ao lado de novas práticas como reuso de papel, economia de água, energia elétrica, alimentos, entre outros, chega a nós como possibilidades de contribuição para, senão a melhoria, ao menos a neutralização do impacto da nossa presença no planeta.

Certamente, do ponto de vista da utilização de recursos naturais, essas atitudes tendem a gerar resultados. Menos recursos consumidos, mais recursos disponíveis.

No entanto, é preciso ponderar que esse é apenas um dos aspectos que influenciam as condições de sustentabilidade do sistema.  Existem outros.  A existência de bilhões de pessoas em condição de pobreza ou de miséria, que nem fazem parte ou participam parcialmente do universo do consumo do essencial para a sobrevivência, por exemplo, é um desses aspectos. Se agirmos em favor de reduzir, precisamos também agir para distribuir o que se economizou.

Um dos apelos das campanhas de redução do consumo de água, apenas para continuar citando exemplos, é o argumento de que o que se desperdiça poderia ser destinado a matar a sede de  pessoas que não tem. Mas como essa água economizada vai chegar a essas pessoas? Se pensarmos em água potável como uma possibilidade apenas àqueles que têm como pagar por ela, possivelmente o seu esforço irá “ralo abaixo” se não enfrentarmos a questão da efetividade concreta dos direitos humanos, que deve ser garantida a todos, independentemente das condições de se pagar por esse serviço. E o mesmo pode se dizer dos alimentos e da energia elétrica.

Outro exemplo é o uso do carro flex. Pode-se até ficar feliz por ajudar o planeta consumindo combustível de origem renovável, mas talvez não seja possível ficar tão felizes pensarmos no estresse causado pelos congestionamentos que crescem na proporção dos novos carros que são colocados nas ruas, e que, embora cada unidade polua menos, se aumentamos o número de fontes poluidoras, o resultado não será tão benéfico quanto se gostaríamos que fosse. Contar com um sistema de transporte coletivo eficiente e de qualidade, nessa situação, parece ser uma possibilidade muito mais efetiva.

E a tal da separação dos resíduos? Se não houver coleta seletiva ou uma cooperativa de catadores e recicladores para recolhê-los, ou ainda, se não houver interesse econômico suficiente para a reciclagem ou qualquer outra atividade de reuso, o destino deles não será outro senão virar lixo. Os exemplos são inúmeros e não teria muita utilidade ficarmos dissecando cada um. Mais útil, me parece, é reconhecer que todos eles possuem uma origem comum, que se enraíza numa crise que não é ambiental, mas social: a necessidade premente de nos reconhecermos como parte de um todo, um organismo vivo e dinâmico que não sobrevive apenas pela manutenção das partes, mas também pelo funcionamento dessas partes em favor do todo.

Reconhecer que a ecologização do consumo vai além do mero consumo do ecológico e que nossas escolhas de consumo não são mais que uma pequena parte da magnífica tarefa de nos alçarmos a um novo modelo de civilidade, em que o todo coletivo possa, efetivamente, ser mais que a soma das partes, me parece, essa é a verdadeira consciência, esclarecida, que ilumina não o consumidor, mas o cidadão. É desse sujeito que precisamos para viver num mundo melhor.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Por que o Plano Nacional de Contingência para atendimento a derramamento de óleo é tão importante para o Brasil?

Derramamentos de óleo e substâncias perigosas podem causar grandes impactos ambientais nos ecossistemas atingidos, provocar grandes perdas econômicas para os habitantes locais e para populações que utilizam recursos naturais destes ambientes. Estes incidentes podem demandar utilização intensa de recursos materiais, humanos e financeiros. Um Plano Nacional de Contingência para Atendimento a Derramamentos de Óleo e Substâncias Perigosas é considerado o modo mais eficaz de planejamento da estrutura nacional de combate a este tipo de evento.

Do petróleo produzido no Brasil, mais de 90% vem de reservatórios localizados sob o mar. Isso significa que um volume aproximado de 1,3 milhões de barris equivalentes de petróleo, em média, são extraídos e transportados diariamente ao longo de toda extensão da costa brasileira.

O recente vazamento de petróleo da Chevron é um sinal de alerta importantíssimo num país onde já existem 136 plataformas de produção, 60 sondas de perfuração e 8.964 poços em funcionamento. Segundo o IBAMA, ocorrem em média de 20 a 30 pequenos vazamentos de óleo por ano. E o cenário tende a ser mais preocupante, pois o Brasil será, em dez anos, o maior produtor de petróleo do mundo entre as nações que não integram a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP).

O litoral brasileiro tem diversas atividades econômicas que poderiam ser diretamente afetadas por um eventual derramamento acidental de óleo no mar, como o turismo e a pesca. Além deste aspecto social, temos também o aspecto ambiental, pois o ecossistema marinho existente é muito diverso e de importância e sensibilidade variadas.


Para compreender a probabilidade de acontecimentos deste tipo, ao se observar o histórico do problema de derramamento de óleo no mar no mundo nota-se que o número de eventos e a magnitude dos mesmos estão diminuindo significativamente ao longo dos anos, como mostra a Figura abaixo. Isso se deve à melhoria das tecnologias prevencionistas (como navios petroleiros de casco duplo, técnicas de controle de poço e outras). Muitas dessas melhorias são frutos de novas exigências governamentais ou virtude das políticas ambientais das próprias empresas.


Number of spills
             Número de derramamentos com mais do que 700 toneladas


Em contrapartida, de fácil percepção, mas de difícil quantificação, a importância dada pelos governos e pela opinião pública aos impactos gerados por derramamentos de óleo cresceu também significativamente. O impacto ambiental de um derramamento de óleo não tem uma relação direta com o volume derramado e sim com as áreas sensíveis que ele atinge. Como podemos observar na na próxima figura, que mostra o volume de óleo derramado por ano, analisando especificamente o ano de 1989, percebemos que o desastre do navio petroleiro Exxon Valdez na Costa do Alaska teve menos do que a metade do volume derramado pelo navio petroleiro Khark V que adernou a 120 milhas náuticas da costa atlântica do Marrocos, sendo que o primeiro é tido como um símbolo dos desastres associados a derramamentos de óleo e o segundo é lembrado por poucos.


 Quantities of oil
Quantidade de óleo derramado 


O derramamento do petroleiro Exxon Valdez, apesar de ser o 36º maior em volume já registrado na história (Internation Tanker Owners Pollution Federation – Ago/2011), teve repercussão muito maior do que outros de volume superior, mas que não atingiram regiões costeiras ou áreas sensíveis. Esse derramamento atraiu fortemente o interesse da imprensa por ser até então o maior derramamento ocorrido em águas americanas e ter ocorrido em uma área de grande importância na atividade pesqueira, com grande diversidade ambiental incluindo diversas espécies ameaçadas de extinção, como a águia de cabeça pelada. Nesse caso, o custo envolvido na resposta foi o maior da história, sendo, no primeiro ano somente, de mais do que 2 bilhões de dólares, não incluídas as multas e compensações pagas em ações judiciais que se prolongam até os dias de hoje.

De maneira geral, segundo a INTERNATIONAL MARITIME ORGANIZATION, os custos de resposta somente, incluindo remediação, mas não multas, variam de aproximadamente US$ 650/tonelada a próximo de US$ 650.000/tonelada. Essa variância se deve, principalmente, pelas áreas atingidas pelo óleo derramado. 

Outro aspecto importante a ser considerado na análise dos derramamentos são as possíveis causas dos mesmos, como podemos observar na Tabela:


Operações
< 7 toneladas
7-700 toneladas
> 700 toneladas
Total
Carregamento e descarregamento
2821
332
30
3183
Abastecimento
548
26
0
574
Outras Operações
1178
56
1
1235
Acidentes
Colisões
173
296
97
566
Adernamento
235
222
118
575
Falhas de Casco
576
90
43
709
Fogo e Explosão
88
15
30
133
Outras/Desconhecidas
2181
148
24
2353
Total
7800
1185
343
9328
Derramamento por causa, 1974-2010 


Analisando a Tabela, observa-se que:

ü A maioria dos derramamentos de óleo no mar de pequena monta (menores que 7 toneladas), resultam de operações rotineiras como carregamento, descarregamento e abastecimento (que normalmente ocorrem em portos , terminais, ou plataformas relativamente próximos a costa)

ü A maioria dos derramamentos operacionais é de pequena monta (aproximadamente 91% de menos do que 7 toneladas)

ü Causas acidentais como colisões e adernamentos geralmente causam acidentes de maior monta com pelo menos 84% dos incidentes envolvendo quantidades maiores do que 700 toneladas de óleo sendo atribuídas a esses fatores.

De maneira resumida, de acordo com a análise das estatísticas apresentadas, a maior probabilidade de ocorrências de derramamento de óleo no mar se dá próximo à costa, assim como aquelas de maior severidade, principalmente aquelas que ocorrerem em áreas sensíveis.

Uma vez que os derramamentos, por análise histórica, são inevitáveis, e os custos de reparação elevados, responder a eles de maneira eficaz é muito importante. Se respondidos eficientemente, o impacto ambiental e, por consequência, os custos associados a remediações serão reduzidos, além de minimizar os impactos negativos associados ao nome da empresa cujo óleo foi derramado, por demonstrar presteza e diligência.  Por isso a necessidade de um Plano Nacional de Contingência a Derramamento de Petróleo, estruturado nos níveis estratégico, tático e operacional, onde as decisões tomadas em um nível superior serão restrições para os problemas formulados no nível inferior.

Para o problema de derramamento de óleo no mar sob o enfoque estratégico são consideradas as decisões relacionadas ao investimento e ao planejamento de longo prazo, ou seja, relacionadas a futuros derramamentos possíveis de ocorrer, sendo então determinados os tipos e as quantidades de equipamentos necessários e os locais mais adequados para armazená-los de maneira que se tenha uma capacidade adequada para uma ampla faixa de potenciais derramamentos de óleo que possam vir a ocorrer ao longo de um horizonte de tempo especificado. Um dos requisitos que direcionará o posicionamento destes equipamentos é o atendimento do tempo máximo de resposta requerido para cada um dos cenários de derramamentos identificados.

Os níveis tático e operacional dizem respeito às decisões a serem tomadas após a ocorrência do acidente. No nível tático são tratadas as decisões relacionadas à resposta a um acidente específico de derramamento de óleo, definindo-se para este o número e tipo de equipamentos que serão alocados à cena no início do acidente e durante o seu andamento. O problema tático assume que o problema estratégico tenha sido resolvido, uma vez que decisões no nível tático utilizarão os equipamentos que foram disponibilizados no plano estratégico.

O nível operacional está relacionado com o uso dos equipamentos uma vez que estes tenham chegado à cena do acidente. Nele são examinadas com muito mais detalhe as ações que devem ser tomadas durante o acidente, qual a configuração geométrica adequada aos equipamentos ou qual a alocação espacial dos equipamentos de resposta/limpeza. Decisões operacionais determinam exatamente como utilizar os sistemas de resposta prescritos pelo nível tático.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Estamos preparados para os desafios do Pré-sal?

O vazamento de petróleo da Chevron é um sinal de alerta importantíssimo num país onde já existem 136 plataformas de produção, 60 sondas de perfuração e 8.964 poços em funcionamento. Segundo o Ibama, ocorrem em média de 20 a 30 pequenos vazamentos de óleo por ano. Trata-se de uma atividade de altíssimo risco, razão pela qual o professor de Engenharia Oceânica da COPPE, Segen Stefen, advertiu em uma entrevista recente que os “vazamentos vão acontecer, eles acontecem na indústria do petróleo, razão pela qual precisamos ter as ferramentas adequadas para lidar com eles”.

E o cenário tende a ser mais preocupante, pois o Brasil será, em dez anos, o maior produtor de petróleo do mundo entre as nações que não integram a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep). Dessa produção, cerca de 90% virá de plataformas offshore (no mar). 

Em resposta ao título desta postagem, pode-se afirmar: o Brasil não está preparado para abrigar a mais voluptuosa exploração de petróleo em águas profundas do mundo! Esta talvez seja a maior lição do vazamento de óleo nas proximidades de um poço aberto pela Chevron na Bacia de Campos, o qual revelou uma série de irregularidades, em diferentes níveis governamentais e privados, como erros de cálculo, desencontro de informações, falta de transparência, omissão e demora para agir.

O vazamento, que começou no dia 8 e só foi controlado ontem, após a cimentação da rachadura no poço, ainda deixa perguntas importantes sem respostas e algum espaço para especulações. Não é possível que os engenheiros e funcionários da Chevron ouvidos na plataforma da companhia pelo delegado da Polícia Federal responsável pelo caso, Dr. Fábio Scliar, digam que “não receberam treinamento para lidar com vazamentos” nem saibam apontar com exatidão para onde está sendo levado o óleo supostamente recolhido pela Chevron, conforme nota divulgada pela empresa.

Não é admissível que o vazamento tenha sido percebido primeiro pela Petrobras, que ainda emprestou equipamentos capazes de observar a 1.200 metros de profundidade o que estava acontecendo exatamente nas fissuras geológicas que começaram a “sangrar” óleo nas imediações do poço aberto pela TransOcean, a pedido da Chevron. A mesma TransOcean que está sendo processada nos Estados Unidos por envolvimento no maior desastre ambiental daquele país, o mega-vazamento de óleo da BP no Golfo do México, há pouco mais de um ano. O próprio presidente da Chevron, Charles Buck, admitiu que “subestimou-se a pressão do reservatório”.

A investigação deverá revelar os termos do licenciamento dado a Chevron para operar o campo, mas não será surpresa se os argumentos técnicos em favor da exploração forem ligeiramente parecidos com outros relatórios alusivos a áreas completamente diferentes por conta do velho truque do “copia e cola”, tão amplamente disseminado nas rotinas dos Estudos de Impacto Ambiental (EIA).

Numa curiosa coincidência, o vazamento ocorreu poucas semanas depois de o governo anunciar medidas que, na prática, agilizam (ou flexibilizam) o processo de licenciamento ambiental. No caso da exploração de petróleo e gás, as licenças passariam a ser feitas por blocos de área de exploração e não mais poço a poço.

Pergunta importante: por que o governo ainda não anunciou o Plano Nacional de Contingência, que já foi aprovado por lei há 11 anos? O Plano deve estabelecer responsabilidades e atribuições para cada diferente setor governamental ou privado quando houver vazamentos. É evidente que o assunto desagrada a quem, a partir do Plano, deixa de ter desculpas para não ter sido devidamente prudente ou suficientemente ágil em caso de acidentes.

Para piorar a situação, o valor máximo da multa por crime ambiental no Brasil é de apenas 50 milhões de reais. Segundo o delegado da PF, Fábio Scliar, bastam 53 minutos de produção para que uma petrolífera consiga arrecadar esses 50 milhões de reais. Em resumo: essa multa não intimida nenhuma empresa do setor.

Para que ninguém se arrependa depois, é preciso agir agora com a devida coragem, realinhando os procedimentos que envolvem licenciamento, monitoramento, fiscalização, multa e novas medidas de segurança. Não basta ser mega-produtor de petróleo. É preciso fazer isso com responsabilidade e segurança.


Vazamento de petróleo no campo de Frade, operado pela Chevron