terça-feira, 22 de novembro de 2011

Estamos preparados para os desafios do Pré-sal?

O vazamento de petróleo da Chevron é um sinal de alerta importantíssimo num país onde já existem 136 plataformas de produção, 60 sondas de perfuração e 8.964 poços em funcionamento. Segundo o Ibama, ocorrem em média de 20 a 30 pequenos vazamentos de óleo por ano. Trata-se de uma atividade de altíssimo risco, razão pela qual o professor de Engenharia Oceânica da COPPE, Segen Stefen, advertiu em uma entrevista recente que os “vazamentos vão acontecer, eles acontecem na indústria do petróleo, razão pela qual precisamos ter as ferramentas adequadas para lidar com eles”.

E o cenário tende a ser mais preocupante, pois o Brasil será, em dez anos, o maior produtor de petróleo do mundo entre as nações que não integram a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep). Dessa produção, cerca de 90% virá de plataformas offshore (no mar). 

Em resposta ao título desta postagem, pode-se afirmar: o Brasil não está preparado para abrigar a mais voluptuosa exploração de petróleo em águas profundas do mundo! Esta talvez seja a maior lição do vazamento de óleo nas proximidades de um poço aberto pela Chevron na Bacia de Campos, o qual revelou uma série de irregularidades, em diferentes níveis governamentais e privados, como erros de cálculo, desencontro de informações, falta de transparência, omissão e demora para agir.

O vazamento, que começou no dia 8 e só foi controlado ontem, após a cimentação da rachadura no poço, ainda deixa perguntas importantes sem respostas e algum espaço para especulações. Não é possível que os engenheiros e funcionários da Chevron ouvidos na plataforma da companhia pelo delegado da Polícia Federal responsável pelo caso, Dr. Fábio Scliar, digam que “não receberam treinamento para lidar com vazamentos” nem saibam apontar com exatidão para onde está sendo levado o óleo supostamente recolhido pela Chevron, conforme nota divulgada pela empresa.

Não é admissível que o vazamento tenha sido percebido primeiro pela Petrobras, que ainda emprestou equipamentos capazes de observar a 1.200 metros de profundidade o que estava acontecendo exatamente nas fissuras geológicas que começaram a “sangrar” óleo nas imediações do poço aberto pela TransOcean, a pedido da Chevron. A mesma TransOcean que está sendo processada nos Estados Unidos por envolvimento no maior desastre ambiental daquele país, o mega-vazamento de óleo da BP no Golfo do México, há pouco mais de um ano. O próprio presidente da Chevron, Charles Buck, admitiu que “subestimou-se a pressão do reservatório”.

A investigação deverá revelar os termos do licenciamento dado a Chevron para operar o campo, mas não será surpresa se os argumentos técnicos em favor da exploração forem ligeiramente parecidos com outros relatórios alusivos a áreas completamente diferentes por conta do velho truque do “copia e cola”, tão amplamente disseminado nas rotinas dos Estudos de Impacto Ambiental (EIA).

Numa curiosa coincidência, o vazamento ocorreu poucas semanas depois de o governo anunciar medidas que, na prática, agilizam (ou flexibilizam) o processo de licenciamento ambiental. No caso da exploração de petróleo e gás, as licenças passariam a ser feitas por blocos de área de exploração e não mais poço a poço.

Pergunta importante: por que o governo ainda não anunciou o Plano Nacional de Contingência, que já foi aprovado por lei há 11 anos? O Plano deve estabelecer responsabilidades e atribuições para cada diferente setor governamental ou privado quando houver vazamentos. É evidente que o assunto desagrada a quem, a partir do Plano, deixa de ter desculpas para não ter sido devidamente prudente ou suficientemente ágil em caso de acidentes.

Para piorar a situação, o valor máximo da multa por crime ambiental no Brasil é de apenas 50 milhões de reais. Segundo o delegado da PF, Fábio Scliar, bastam 53 minutos de produção para que uma petrolífera consiga arrecadar esses 50 milhões de reais. Em resumo: essa multa não intimida nenhuma empresa do setor.

Para que ninguém se arrependa depois, é preciso agir agora com a devida coragem, realinhando os procedimentos que envolvem licenciamento, monitoramento, fiscalização, multa e novas medidas de segurança. Não basta ser mega-produtor de petróleo. É preciso fazer isso com responsabilidade e segurança.


Vazamento de petróleo no campo de Frade, operado pela Chevron

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Bisfenol A: você ingere sem saber e adoece sem querer

Em setembro, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária proibiu a comercialização de mamadeiras com a presença de bisfenol A (BPA), decisão que valerá a partir de 1º de janeiro de 2012. Por trás da proibição está um movimento internacional de alerta aos danos que essa substância pode causar. Os prejuízos, registrados por diversos estudos científicos ao redor do mundo, vão desde alterações no sistema endócrino e reprodutor até alguns tipos de câncer. Países como Canadá, China e os da União Europeia, além de vários estados dos EUA, também já tomaram medidas para restringir o uso da substância.

O bisfenol A é um composto químico que pode ser encontrado em materiais que apresentam em sua composição o policarbonato e em revestimentos internos de latas que condicionam alimentos. De óculos de sol a acessórios de automóveis, produtos com BPA estão por toda parte. Mas são nos utensílios de cozinha, em especial os infantis, como mamadeiras e copos de criança, sobre os quais reside a preocupação dos médicos.

"O BPA é uma molécula muito instável e pode migrar dos produtos para os alimentos apenas com mudanças de temperatura ou danos à embalagem", explica Cristiane Kochi, médica endocrinologista-pediatra e membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia. Portanto, o leite da criança pode ser contaminado, por exemplo, quando uma mamadeira feita de plástico com BPA é levada ao microondas.

O principal perigo da exposição ao bisfenol A está no fato de ser um desregulador endócrino. "No organismo, o BPA se comporta de maneira semelhante ao estrógeno, um hormônio feminino. Ele interfere diretamente no funcionamento de algumas glândulas endócrinas e pode aumentar ou diminuir a ação de vários hormônios", explica Tânia Bachega, endocrinologista do Hospital das Clínicas e coordenadora da campanha "Diga não ao bisfenol A: a vida não tem plano B", feita pela regional de São Paulo da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia.

O BPA atinge mais gravemente fetos e crianças, já que estão em fase de desenvolvimento. Porém, os adultos também podem ser prejudicados, por estarem em contato com diversos produtos que contêm a substância, como enlatados (praticamente todas as latas de alumínio vendidas no Brasil tem BPA em seu revestimento interno) e alimentos que ficam armazenados em recipientes de plástico, e são frequentemente levados à geladeira e ao congelador. Mudanças de temperatura, mesmo pequenas, são o suficiente para liberar o bisfenol A .

Ainda faltam estudos em  humanos que apresentem evidências concretas, mas pesquisas com animais em laboratório sugerem que o consumo do BPA esteja relacionado com pior qualidade do esperma (queda de produção, espermas imóveis ou morte de espermas) e infertilidade, atribuída à atividade estrogênica do BPA. Além disso, observou-se um potencial cancerígeno do BPA, em especial o câncer de próstata. Nas mulheres, a alteração genética causada pelo BPA pode desencadear infertilidade e câncer de mama. E, tanto em homens como mulheres, estudos associaram o BPA à obesidade. "Não há uma explicação exata para isso, mas acredita-se que o bisfenol A altere a máquina celular, causando um acúmulo das células adiposas", afirma Elaine Frade Costa, médica supervisora do serviço de endocrinologia do Hospital de Clínicas de São Paulo. Também foi relacionada a exposição ao BPA com alteração da tireoide e interferência no sistema imunológico. 

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Os royalties do petróleo: uma repartição igualitária ou uma contrapartida aos estados produtores?

Royalty vem do inglês royal (real). Esse conceito tem início na Idade Média, onde uma taxa era paga ao rei pela extração de recursos naturais.

Atualmente, os royalties do petróleo têm, principalmente, um sentido reparador para seus impactos ambientais. Ou seja, as regiões produtoras são recompensadas pelos danos ambientais decorrentes. Além disso, ele é utilizado para compensar uma distorção tributária: ao contrário do que acontece com todos os outros produtos, o ICMS do Petróleo é arrecadado no estado comprador, não no que produz. Por fim, esse recurso financeiro existe para ser aplicado no desenvolvimento de atividades econômicas que substituam a exploração do petróleo quando este se extinguir, exemplos bem sucedidos acontecem na Noruega e Emirados Árabes

No Brasil, a lei dos royalties foi criada em 1953, estabelecendo 4% sobre o valor total da produção (3% para os estados produtores e 1 % para seus municípios). Desde então a legislação foi alterada 3 vezes. Em 1985, com o início da exploração offshore, estados e municípios próximos às plataformas passaram a receber 1,5% do valor da produção, a Marinha 1% e o Fundo Especial (dividido entre todos os estados), 1%. Em 1989, os royalties subiram para 10% e a divisão ficou como está hoje. 

O estado do Rio de Janeiro é dono de 80% da produção nacional de petróleo e recebe, por isso, 45% dos royalties. No entanto, uma nova proposta de distribuição dos royalties do petróleo, de autoria do senador Vital do Rego, prevê uma nova distribuição, já para 2012. Isso representaria uma perda de aproximadamente 50 bilhões de reais aos cofres do estado do Rio e a seus municípios produtores, até 2020.



Esse projeto foi aprovado no senado, em 19/10/2011. Passará por votação na Câmara, ainda sem data marcada. Caso seja aprovada, passará para sanção ou veto da Presidente Dilma.

É um absurdo que o pacto federalista, o conceito de Nação, dê lugar a interesses políticos. A justificativa é que essa nova distribuição dos royalties ajudaria na equidade econômica entre os estados brasileiros. Mentira! Se assim fosse, os estados mais pobres receberiam uma parcela maior. O Rio de Janeiro precisa abdicar de bilhões de reais em favor de Santa Catarina, Paraná, Rio Grande do Sul ou São Paulo, que possuem Índices de Desenvolvimento Humano superiores?!


Como dito acima, os royalties possuem um sentido reparador dos danos ao meio ambiente. O mapa abaixo foi desenvolvido por modelagem computacional e mostra o comportamento das correntes marítimas na região sudeste.


Observando os vetores, pode-se concluir que o petróleo derramado durante a exploração e/ou transporte na região da Bacia de Campos (80% da produção nacional), viria para o litoral do estado do Rio de Janeiro, constituído por praias de alta sensibilidade ecológica.

Além da questão ambiental dos royalties, tem-se a tributária. Como ICMS do Petróleo é arrecadado no estado comprador, com a nova distribuição dos royalties, os estados produtores não terão mais essa distorção corrigida. 


Por fim, o petróleo é um recurso finito. Todos no estado do Rio de Janeiro sabem que não poderão contar com os recursos advindos de sua exploração eternamente. Com isso, novas atividades econômicas estão - e deverão ser - desenvolvidas. E para isso gasta-se muito dinheiro na formação e capacitação de pessoas, desenvolvimento, pesquisa, inovação e incorporação de tecnologias e técnicas de produção. Para um estado que nunca produziu petróleo, não precisa se preocupar e se preparar para seu fim.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Novo Maracanã já nasce velho

O projeto do novo Maracanã confirma a exclusão de um item absolutamente importante para que qualquer projeto de engenharia do gênero possa ser chamado de "moderno e sustentável". Apesar do variado cardápio de estádios de futebol espalhados pelo mundo com aproveitamento energético do sol, a caríssima obra de reconstrução do Maracanã - quase 1 bilhão de reais - ignorou essa possibilidade.

Estranho que isso tenha acontecido num país onde o sol brilha, em média, 280 dias por ano. Ainda mais na cidade que sediou a Rio-92, que vai sediar a Rio+20 e que está situada na mesma faixa de exposição solar que Sidney, na Austrália, que se notabilizou por realizar os primeiros Jogos Verdes da História, inteiramente abastecidos de energia solar.

Que estupidez a nossa desperdiçar a imensa área das marquises do novo Maracanã - quase 29 mil metros quadrados - que poderiam abrigar um vistoso conjunto de placas fotovoltaicas capazes de gerar energia elétrica para até 3.000 domicílios. O custo varia de dez a vinte milhões de reais, dependendo da tecnologia empregada. Alguém poderá dizer: "É caro demais! Não vale a pena". Mas será que a forma usual de comprar energia está valendo a pena?

Vivemos num país onde, segundo o IBGE, a tarifa de energia elétrica subiu mais do que o dobro da inflação oficial nos últimos 15 anos. A opção pelo solar - embora mais cara - oferece como vantagem a amortização do investimento em alguns poucos anos.

Alguém poderá dizer que a nova marquise - mais leve - poderia não suportar as tradicionais placas fotovoltaicas. Pois que se pensasse numa estrutura compatível. O que está em jogo é a possibilidade de tornar o estádio útil mesmo em dias que não aconteçam partidas de futebol. O Maracanã poderia ser uma usina de energia - ainda que com potência modesta - que além do benefício direto de gerar eletricidade, funcionaria também como elemento indutor de mais pesquisas e investimentos em energia solar no Brasil.

E quem disse que o custo de instalação de um projeto como esse só seria possível com recursos públicos? Se houvesse vontade política para promover inovação tecnológica no setor energético usando o novo Maracanã como garoto-propaganda, seria perfeitamente possível sondar o interesse de grandes empresas com know-how em energia solar que aceitassem instalar os equipamentos fotovoltaicos a custo zero, sem ônus para o governo. E o que essa empresa ganharia em troca? O direito de explorar a imagem do Maracanã como "estádio solar" graças à tecnologia oferecida pela empresa.

Alguém duvida que a imagem aérea do estádio tanto na Copa de 2014 quanto nas Olimpíadas de 2016 alcançará bilhões de telespectadores pelo mundo? É mídia espontânea, superexposição positiva de imagem, e tudo aquilo que um bom negociador não levaria mais do que alguns minutos para convencer o investidor a botar a mão no bolso e bancar a ideia.

Com recursos públicos ou privados, o certo era fazer. Não basta instalar alguns coletores solares para aquecer a água do banho usadas pelos atletas nos vestiários. É pouco. Se os responsáveis pelo projeto do Maracanã marcaram um gol contra desprezando o sol, os estádios de Pituaçu, em Salvador, e Mineirão, em Belo Horizonte, terão a energia solar como aliada para a produção de energia elétrica. Infelizmente, os cariocas continuarão usando o sol apenas para se bronzear. Símbolo da sustentabilidade por suas belezas naturais e por sediar grande conferências ambientais da ONU, o Rio de Janeiro continua com um Maracanã aquém do que merece.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Acidentes envolvendo produtos químicos perigosos: O que fazer?

Considera-se substâncias químicas perigosas aquelas que, isoladas ou em mistura, possam acarretar efeitos prejudicias aos organismos biológicos devido suas propriedades tóxicas, corrosivas, oxidantes e radioativas. Tais produtos podem estar sob forma sólida, líquida ou gasosa.

1 - Os acidentes envolvendo produtos químicos perigosos devem ser atendidos por pessoal técnico qualificado  e com uso de equipamentos apropriados para este fim
   
2 - As primeiras horas de atuação são fundamentais para evitar sua extensão e severidade. Por consequência, a agilidade na comunicação de sua ocorrência aos órgãos competentes é essencial. Informe ao Corpo de Bombeiros ou a Autoridade Policial sobre a ocorrência de um acidente com produtos químicos

3 - Em caso de acidente com produtos químicos, evite aproximar do local

4 - Mantenha uma distância segura para evitar a inalação de gases ou vapores

5 - Determinadas substâncias são nocivas à saúde, mesmo em pequenas concentrações. Outras são imperceptíveis ao olfato humano

6 - Jamais toque ou ande sobre um produto químico derramado

7 - Certos produtos químicos podem reagir violentamente com a água


Segundo a Organização das Nações Unidas- ONU, os Produtos Químicos Perigosos são classificados em nove Classes:

Classe 1 - Substâncias explosivas
Classe 2 - Gases tóxicos, inflamáveis, oxidantes, não inflamáveis, altamente refrigerados e comprimidos
Classe 3 - Líquidos inflamáveis
Classe 4 - Sólidos inflamáveis, substâncias sujeitas à combustão espontânea e perigosas quando molhadas
Classe 5 - Substâncias oxidantes e peróxido orgânicos
Classe 6 - Substâncias tóxicas e infectantes
Classe 7 - Substâncias radiativas
Classe 8 - Substâncias corrosivas
Classe 9 - Substâncias perigosas diversas

Perfil Nacional de Acidentes envolvendo Produtos Químicos Perigosos









 

terça-feira, 12 de julho de 2011

PIB: não mede prosperidade, sustentabilidade, nem qualidade de vida...


A partir de 1990, as Nações Unidas começaram a publicar seus relatórios anuais sobre o desenvolvimento humano. Desde então, amadureceu e cresceu a ideia de derrubada do conceito de PIB. Não apenas graças ao surgimento de muitos instrumentos alternativos de aferição do bem-estar e da qualidade de vida, fenômenos que nem de longe são revelados pelo PIB. Principalmente, graças à crítica do PIB como indicador sintético da própria riqueza.

A assimilação da riqueza ao PIB é equivocada, pois os métodos de mensuração sofrem de alta margem de incerteza. Comparações internacionais mostram acentuadas divergências de qualidade entre os países ricos, que vão da saúde ao turismo, passando pela alimentação, pelo transporte, e por inúmeras outras coisas. Se apenas as cifras referentes à saúde e à educação no PIB fossem cotejadas com os reais resultados em expectativa de vida e em avanços culturais, despencaria o progresso de vários países considerados de alto desenvolvimento, inclusive pelo IDH (Índice de Desenvolvimento Humano, da ONU).

Mas o pior não está nessa precariedade e heterogeneidade das classificações inerentes aos cálculos de PIB, e sim em suas raízes: os fundamentos éticos da contabilidade social. Exemplo gritante são os bens militares duráveis e, sobretudo, os armamentos de destruição. Eles são tratados como investimento produtivo, ou como consumo corrente. Os técnicos de contas nacionais se defendem com argumento supostamente neutro: de que o fornecimento dessas armas deve ser entendido como prestação de serviço à defesa nacional. Todavia, é óbvio que o caráter destrutivo de operações militares não pode ser visto como um processo de produção, critério norteador das convenções da contabilidade social.

Quando um processo produtivo se baseia essencialmente na exaustão de recursos naturais, cujo caso já clássico foi o da destruição de florestas na Indonésia, o PIB registra aumentos excepcionais, pois seus fundamentos metodológicos não prevêem qualquer dedução que reflita a depreciação do capital natural. Quando um derramamento de petróleo compromete ecossistemas litorâneos, o PIB aumenta graças às despesas de reparação que gerarem transações monetizadas, mas não se altera por serviços de limpeza baseados em trabalho voluntário. Os constantes acidentes viários ajudam a aumentar o PIB na medida em que pagamentos dos consertos de veículos e de tratamentos, ou enterros, das vítimas levem à emissão de notas fiscais, ou recibos de prestação de serviços. Mas o PIB não é afetado se as carcaças dos veículos forem abandonadas, ou se a assistência aos acidentados for assumida por suas famílias. 

O trabalho das donas-de-casa também aumenta o PIB se os produtos forem vendidos, mas não o altera se a reprodução da família for beneficiada sem gerar trocas mercantis. É sobre isto, aliás, a origem da célebre tirada de Paul Samuelson: casamentos de empregados domésticos com patrões reduzem o PIB. E quando as pessoas são coagidas a trabalhar além de suas forças, como ocorreu no Brasil durante o chamado milagre econômico, o PIB aumenta mesmo que se multipliquem os acidentes de trabalho. E nem é afetado se a mortalidade infantil aumentar devido ao arrocho salarial, coisa que também aconteceu naquele período. No limite, mesmo uma tragédia como a do desaparecimento de 155 pessoas na queda de um boeing na floresta amazônica contribuirá para aumentar o PIB, pois os seguros e outras transações necessárias à recuperação dos corpos serão bem superiores aos fluxos monetários que deixarão de ser gerados pela perda do avião e de sua tripulação. 

O pior não está na precariedade das classificações inerentes aos cálculos, e sim em suas raízes, os fundamentos éticos”.

Não é de se admirar, portanto, que, em países do Sul, a adoção de severas instituições para a proteção do meio ambiente, fiscalização das condições de trabalho, respeito aos direitos humanos, e prevenção de acidentes, faça com que eles exibam menor desempenho econômico, se medido pelo PIB. Resultados bem superiores, por esse prisma, são conseguidos por homólogos envolvidos em guerras, ou que devastam seus recursos humanos e naturais. No último quarto do século passado, enquanto o PIB per capita do Brasil aumentava menos de 1% ao ano, o da Índia aumentava 3,3%, o do Líbano 3,6%, o da Indonésia 4,2%, o do Vietnã 5%, e o da China 8,2%. 

É por essa e outras razões que não poderia ter sido mais feliz o brado lançado há quase cinco anos nas páginas do jornal “Le Monde” (23/01/02) pelo economista Jean Gadrey: “A ditadura do PIB é ilegítima em todos os planos: moral, filosófico e até econômico. Está na hora de dessacralizar a assimilação da riqueza ao PIB e a do progresso ao crescimento tal como ele é medido. Temos bons argumentos (e números) para avaliar de outra maneira a qualidade de vida e as riquezas (econômicas e não econômicas) de que dispomos num país.” 

Se esse brado ainda não é tão persuasivo quanto deveria, é porque persistem inúmeras dificuldades, tanto conceituais quanto práticas, de se repensar o sentido da riqueza. E o exemplo mais ilustrativo certamente está na questão ambiental. 

Com o propósito de obter um Produto Interno Líquido (PIL), que chegou a ser chamado de “PIB verde”, muitos economistas apostaram em técnicas de precificação dos bens e serviços naturais (e também de outros intangíveis) para os quais não existem mercados. Ao avançarem nesse rumo, perceberam que estoques são muito mais significativos para a avaliação da riqueza do que os fluxos captados por cálculos de produto. Passaram, então, a procurar modos de estimar o que chamam de “poupança genuína”, ou “poupança líquida ajustada”. No entanto, até agora, não conseguiram fazer estimativas sobre a depreciação de ativos cruciais, como água potável, solo, áreas de pesca oceânicas, florestas e manguezais. Também fica de fora a atmosfera, que serve para despejo de particulados, nitrogênio e óxidos de enxofre. Pior: os preços estimados para atribuir valor monetário aos bens naturais que entraram na lista baseiam-se em premissas que ignoram a capacidade limitada de sistemas naturais se recuperarem de perturbações (a resiliência). Resultados bastante precários, portanto, como deixou claro no ano passado o relatório do Banco Mundial intitulado “Where is the wealth of Nations?”.

Fonte: Professor José Eli da Veiga

sexta-feira, 24 de junho de 2011

A realidade do licenciamento em Porto Açu

De: Carlos MINC, Secretário de Estado do Ambiente - RJ, Luiz Firmino, Subsecretário de Estado do Ambiente - RJ e Marilene Ramos, Presidente do Instituto Estadual do Ambiente - RJ

Alguns veículos de comunicação divulgaram insinuações sobre supostas facilidades e irregularidades na concessão de licenças ambientais para o projeto Porto Açu, do Grupo EBX, do empresário Eike Batista, no Norte Fluminense. É necessário que a população seja informada dos fatos:

1) Ao contrário do que foi referido, a licença do Mineroduto foi dada pelo Ibama, e não pelo Instituto Estadual do Ambiente (Inea), após Estudos e Relatórios de Impacto Ambiental (EIAs/Rimas) e audiências públicas;

2)  Ao contrário do mencionado, todas as licenças do Inea foram precedidas de EIAs/Rimas e audiências, na forma da lei.

3)  Ao contrário do insinuado, não houve facilidades. Pesadas compensações ambientais foram impostas ao grupo para dotar toda a região de adequada infraestrutura de saneamento, para suportar o crescimento devido à instalação do projeto. Foi elaborada uma AAE (Avaliação Ambiental Estratégica) para verificar a sinergia das atividades que se implantarão, com visão de planejamento ambiental da região dentro dos conceitos modernos de gestão.

4)  Quando ministro do Meio Ambiente do governo Lula, Carlos Minc se posicionou contra a instalação de um estaleiro do grupo em Santa Catarina, pois comprometeria três unidades de conservação. No caso do Porto Açu, ao contrário, o mesmo grupo teve que sustentar a criação de três unidades de conservação (a RPPN Caroara, o Parque Estadual do Açu e a Área de Proteção Ambiental Grussaí). Inclusive a  RPPN Caroara, com 4 mil hectares - a maior de área de restinga do país - foi instalada na área comprada pelo grupo para sediar inicialmente o polo. O Parque Estadual do Açu, ao sul do distrito industrial, conta com 8 mil hectares.

5) As condicionantes ambientais para a aprovação do projeto foram algumas das maiores do país já estabelecidas. Apenas para obter duas licenças prévias, foi exigido investimento de R$ 60 milhões para obras de saneamento na região, R$ 7 milhões para implantar um corredor verde de Mata Atlântica que é berço do macaco Muriqui, que será símbolo das Olimpíadas de 2016, e R$ 3 milhões para pescadores e aquicultura.

6)  Houve embates duros com o grupo para garantir a preservação de restingas e lagoas, com a mudança da localização inicial do empreendimento, e pela adoção das tecnologias mais modernas e menos poluentes, entre 2007 e 2011. Portanto, nada foi feito a toque de caixa, como insinuado.