Montanhas de minérios processados acumulam-se junto a minas de ouro, níquel, cobre. São restos de mineração, ainda com algum teor dos metais nobres, mas tão baixo que não vale a pena tentar extrair pelos processos químicos convencionais. E continuariam assim, como meros resíduos, se não fosse por duas espécies de bactérias mineradoras – Acidithiobacillus ferrooxidans e Acidithiobacillus thiooxidans – isoladas pelo pesquisador Oswaldo Garcia Junior, do Instituto de Química de Araraquara da Universidade Estadual Paulista (IQ/AR-Unesp), no interior de São Paulo.
Garcia Jr. coletou estas bactérias em Minas Gerais, no Paraná e na Bahia, em ambientes minerais. Passou a cultivá-las em laboratório, como auxiliares em processos de biohidrolixiviação, ou seja, na recuperação de metais por oxidação e solubilização com ajuda de seres vivos. O pesquisador faleceu recentemente, mas sua esposa, Denise Bevilaqua, doutora na mesma especialidade, assumiu a coordenação do Departamento de Bioquímica e Química Tecnológica e dá prosseguimentos às pesquisas, com recursos da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
“Dependendo da matriz mineral é possível recuperar tudo. É o caso do níquel: as bactérias ajudam a extrair até 100%”, afirma Denise. “Quando o teor do metal é alto, compensa usar os processos tradicionais, mas muitas reservas estão se esgotando e as minas estão cheias de minérios de baixos teores. Aí a biolixiviação é mais indicada. Ou quando o metal vale muito, como o ouro, que já é extraído comercialmente com micro-organismos a partir de resíduos, em Minas Gerais”.
O trabalho de “repescagem” de metais realizado pelas bactérias mineradoras é barato, de fácil aplicação e manutenção, não tem gasto energético, não envolve queima e não emite gases. Porém é preciso fazer uma adaptação para cada tipo de minério, assegurando um ambiente ótimo no qual as bactérias possam proliferar. “Às vezes precisamos tornar o meio mais ácido, às vezes mais básico, por isso primeiro fazemos testes em laboratório, colocando as bactérias diante dos minerais e avaliando quanto elas são capazes de solubilizar. Depois vamos para as colunas de minerais, ainda em laboratório, para observar o metabolismo, medir a oxidação e estudar os resíduos com raios-X. Só então passamos para projetos semi-piloto e piloto”, explica Denise, atualmente encarregada de resolver o complicado caso da calcopirita, um minério de cobre de interesse da Vale, empresa parceira neste projeto de estudos.
A melhor parte da história é que as tais bactérias mineradoras também servem para extrair metais pesados de resíduos perigosos, transformando-os em materiais inertes. A experiência já foi realizada pela equipe de Araraquara com lodo de esgoto contaminado. Após uma semana a dez dias de tratamento com as bactérias, o lodo fica livre desses contaminantes e pode até ser usado na agricultura, em lugar de ser destinado a aterros com isolamento.
“Os testes demonstraram ser factível esse tratamento do resíduo de esgoto”, confirma a pesquisadora. Da mesma forma, micro-organismos mineradores podem retirar qualquer traço de metais pesados das pilhas e baterias, que então se tornariam resíduos inertes e poderiam ser descartadas no lixo comum. “No Brasil ainda não temos esta linha de pesquisa com pilhas, mas a Argentina já explora a possibilidade”, acrescenta.
Fonte: Planeta Sustentável
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