Em setembro, a Agência Nacional de
Vigilância Sanitária proibiu a comercialização de mamadeiras com a
presença de bisfenol A (BPA), decisão que valerá a partir de 1º de janeiro
de 2012. Por trás da proibição está um movimento internacional de alerta aos
danos que essa substância pode causar. Os prejuízos, registrados por diversos
estudos científicos ao redor do mundo, vão desde alterações no sistema
endócrino e reprodutor até alguns tipos de câncer. Países como Canadá, China e
os da União Europeia, além de vários estados dos EUA, também já tomaram medidas
para restringir o uso da substância.
O bisfenol A é
um composto químico que pode ser encontrado em materiais que apresentam em sua
composição o policarbonato e em revestimentos internos de latas que condicionam
alimentos. De óculos de sol a acessórios de automóveis, produtos com BPA estão
por toda parte. Mas são nos utensílios de cozinha, em especial os infantis,
como mamadeiras e copos de criança, sobre os quais reside a preocupação dos
médicos.
"O BPA é uma molécula muito instável
e pode migrar dos produtos para os alimentos apenas com mudanças de temperatura
ou danos à embalagem", explica Cristiane Kochi, médica
endocrinologista-pediatra e membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e
Metabologia. Portanto, o leite da criança pode ser contaminado, por exemplo,
quando uma mamadeira feita de plástico com BPA é levada ao microondas.
O principal perigo da exposição ao
bisfenol A está no fato de ser um desregulador endócrino. "No organismo, o
BPA se comporta de maneira semelhante ao estrógeno, um hormônio feminino. Ele
interfere diretamente no funcionamento de algumas glândulas endócrinas e pode
aumentar ou diminuir a ação de vários hormônios", explica Tânia Bachega,
endocrinologista do Hospital das Clínicas e coordenadora da campanha "Diga
não ao bisfenol A: a vida não tem plano B", feita pela regional de São
Paulo da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia.
O BPA atinge
mais gravemente fetos e crianças, já que estão em fase de desenvolvimento.
Porém, os adultos também podem ser prejudicados, por estarem em contato com
diversos produtos que contêm a substância, como enlatados (praticamente todas
as latas de alumínio vendidas no Brasil tem BPA em seu revestimento interno) e
alimentos que ficam armazenados em recipientes de plástico, e são
frequentemente levados à geladeira e ao congelador. Mudanças de temperatura,
mesmo pequenas, são o suficiente para liberar o bisfenol A .
Ainda faltam estudos
em humanos que apresentem evidências concretas, mas pesquisas com animais
em laboratório sugerem que o consumo do BPA esteja relacionado com pior
qualidade do esperma (queda de produção, espermas imóveis ou morte de espermas)
e infertilidade, atribuída à atividade estrogênica do BPA. Além disso,
observou-se um potencial cancerígeno do BPA, em especial o câncer de próstata.
Nas mulheres, a alteração genética causada pelo BPA pode desencadear
infertilidade e câncer de mama. E, tanto em homens como mulheres, estudos
associaram o BPA à obesidade. "Não há uma explicação exata para isso,
mas acredita-se que o bisfenol A altere a máquina celular, causando um acúmulo
das células adiposas", afirma Elaine Frade Costa, médica supervisora do
serviço de endocrinologia do Hospital de Clínicas de São Paulo. Também foi
relacionada a exposição ao BPA com alteração da tireoide e interferência no
sistema imunológico.
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