De uns tempos para cá estamos
acompanhando o crescimento significativo da consciência sobre a importância de
relacionarmos nossos hábitos de consumo com os impactos que estes causam à
natureza e à sociedade. Chamada a participar da batalha contra uma crise
ambiental que coloca como uma possibilidade cada vez mais presente, a sociedade
gradativamente tem modificado seus hábitos de consumo na tentativa de colaborar
para garantir a qualidade ambiental e o futuro da humanidade. Nesse contexto,
uma das soluções que tem sido posta aos consumidores é a mudança de seus
hábitos de consumo: alternativas aos produtos convencionais, como carros flex,
sacolas biodegradáveis, ecobags, papel reciclado, roupas confeccionadas com
material orgânico ou reciclado, ao lado de novas práticas como reuso de papel,
economia de água, energia elétrica, alimentos, entre outros, chega a nós como
possibilidades de contribuição para, senão a melhoria, ao menos a neutralização
do impacto da nossa presença no planeta.
Certamente, do ponto de vista
da utilização de recursos naturais, essas atitudes tendem a gerar resultados.
Menos recursos consumidos, mais recursos disponíveis.
No entanto, é preciso
ponderar que esse é apenas um dos aspectos que influenciam as condições de
sustentabilidade do sistema. Existem outros. A existência de
bilhões de pessoas em condição de pobreza ou de miséria, que nem fazem parte ou
participam parcialmente do universo do consumo do essencial para a
sobrevivência, por exemplo, é um desses aspectos. Se agirmos em favor de
reduzir, precisamos também agir para distribuir o que se economizou.
Um dos apelos das campanhas
de redução do consumo de água, apenas para continuar citando exemplos, é o
argumento de que o que se desperdiça poderia ser destinado a matar a sede
de pessoas que não tem. Mas como essa água economizada vai chegar a essas
pessoas? Se pensarmos em água potável como uma possibilidade apenas àqueles que
têm como pagar por ela, possivelmente o seu esforço irá “ralo abaixo” se não enfrentarmos
a questão da efetividade concreta dos direitos humanos, que deve ser garantida
a todos, independentemente das condições de se pagar por esse serviço. E o
mesmo pode se dizer dos alimentos e da energia elétrica.
Outro exemplo é o uso do
carro flex. Pode-se até ficar feliz por ajudar o planeta consumindo combustível
de origem renovável, mas talvez não seja possível ficar tão felizes pensarmos
no estresse causado pelos congestionamentos que crescem na proporção dos novos
carros que são colocados nas ruas, e que, embora cada unidade polua menos, se
aumentamos o número de fontes poluidoras, o resultado não será tão benéfico
quanto se gostaríamos que fosse. Contar com um sistema de transporte coletivo
eficiente e de qualidade, nessa situação, parece ser uma possibilidade muito
mais efetiva.
E a tal da separação dos
resíduos? Se não houver coleta seletiva ou uma cooperativa de catadores e
recicladores para recolhê-los, ou ainda, se não houver interesse econômico
suficiente para a reciclagem ou qualquer outra atividade de reuso, o destino
deles não será outro senão virar lixo. Os exemplos são inúmeros e não teria
muita utilidade ficarmos dissecando cada um. Mais útil, me parece, é reconhecer
que todos eles possuem uma origem comum, que se enraíza numa crise que não é
ambiental, mas social: a necessidade premente de nos reconhecermos como parte
de um todo, um organismo vivo e dinâmico que não sobrevive apenas pela
manutenção das partes, mas também pelo funcionamento dessas partes em favor do
todo.
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